A memória não depende apenas da visão ou da audição. O olfato, frequentemente subestimado, tem um poder extraordinário de ativar lembranças profundas e emoções antigas. Em idosos, esse estímulo pode ser uma poderosa ferramenta de resgate afetivo, proporcionando conforto emocional, ativação cognitiva e fortalecimento da identidade pessoal.
Neste artigo, você vai entender como o olfato está ligado à memória, por que os aromas são tão eficazes no resgate de lembranças e como usar essa abordagem de forma simples e prática no dia a dia de quem está na terceira idade.
A conexão entre olfato e memória: como funciona?
O olfato é o único sentido que tem conexão direta com o sistema límbico, uma das áreas mais antigas do cérebro, responsável pelas emoções e pelas memórias. Quando sentimos um cheiro, o estímulo passa pelo bulbo olfativo e rapidamente atinge o hipocampo e a amígdala, estruturas centrais no armazenamento das lembranças.
Por isso, um aroma pode, em questão de segundos, nos transportar para momentos específicos da vida, mesmo aqueles que pareciam esquecidos. Isso é conhecido como memória olfativa.
Exemplos clássicos:
- O cheiro de pão assando que lembra a cozinha da avó
- O aroma de um perfume que remete ao primeiro amor
- O cheiro de terra molhada que traz recordações da infância no campo
Essas conexões são particularmente fortes porque os aromas não são processados racionalmente em um primeiro momento. Eles despertam sensações e emoções antes mesmo que possamos nomeá-los.
Por que os aromas são tão eficazes para idosos?
Com o avanço da idade, a memória episódica e a capacidade de formar novas lembranças podem diminuir. No entanto, memórias mais antigas, especialmente as emocionais e sensoriais, tendem a permanecer por mais tempo. O olfato, ao ativar essas lembranças de forma quase automática, pode proporcionar:
- Reconexão com a própria história
- Sensações de acolhimento e segurança
- Redução da ansiedade e do estresse
- Estímulo ao diálogo e à socialização
- Ativação de áreas cerebrais associadas ao prazer e ao bem-estar
Mesmo em idosos com quadros de demência leve, como Alzheimer no início, o estímulo olfativo ainda pode gerar respostas emocionais significativas, mesmo quando outras formas de memória já estão comprometidas.
Como usar os aromas para resgatar memórias afetivas?
Agora que entendemos o impacto do olfato na memória, vamos conhecer formas simples e práticas de aplicar essa técnica no dia a dia, com segurança e carinho.
1. Caixa de aromas afetivos
Como fazer:
Monte uma caixa com itens aromáticos que remetam à vida do idoso. Pode conter sachês de ervas, sabonetes antigos, especiarias, perfumes conhecidos, folhas secas, etc.
Sugestões de aromas comumente associados a memórias:
- Canela (bolo ou sobremesas de infância)
- Café (manhãs em família)
- Lavanda (produtos de limpeza ou roupas de cama)
- Terra molhada (chuva na infância)
- Sabonete de alfazema (banho da infância ou adolescência)
- Perfume de um parente querido
- Cheiro de pão caseiro ou bolo assando
Dica extra:
Peça que o idoso escolha um item, sinta o aroma e, em seguida, conte o que aquele cheiro lhe lembra.
2. Atividade de cozinha com aromas marcantes
Como fazer:
Convide o idoso para participar do preparo de receitas com aromas fortes e conhecidos, como arroz doce, bolo de fubá, pão de queijo, calda de goiaba ou chá de erva-doce.
Benefícios:
Durante o preparo, o cheiro se espalha pela casa, ativando memórias associadas à infância, à maternidade, aos almoços de domingo, entre outros momentos marcantes.
Dica:
Aproveite o momento para conversar sobre tradições familiares e histórias relacionadas à comida.
3. Perfumes e colônias antigas
Como fazer:
Busque perfumes ou colônias usados por parentes queridos ou pelo próprio idoso em outras fases da vida. Você pode encontrá-los em farmácias tradicionais ou perfumarias nostálgicas.
Dica:
Aplique uma pequena quantidade em um lenço e peça que o idoso identifique ou simplesmente sinta. A experiência pode gerar risos, emoção ou até lágrimas — tudo faz parte do processo terapêutico.
4. Aromatização do ambiente com propósito
Como fazer:
Use difusores, sprays ou velas aromáticas com fragrâncias específicas em momentos de conversa, leitura ou descanso. O ideal é usar um aroma diferente por ocasião ou objetivo.
Exemplos:
- Lavanda: relaxamento antes de dormir
- Hortelã: foco e concentração em momentos de leitura
- Baunilha: conforto emocional em dias de nostalgia
- Alecrim: energia e clareza mental
Importante:
Sempre verifique se o idoso tem alergia ou sensibilidade a fragrâncias antes de aplicar essa técnica.
5. Atividades sensoriais guiadas
Como fazer:
Prepare uma atividade sensorial onde o idoso, de olhos vendados, sente o cheiro de diferentes itens e tenta associá-los a lembranças ou momentos específicos da vida.
Itens possíveis:
- Raspas de limão
- Cravo-da-índia
- Vick VapoRub
- Sabonete Febo ou Phebo
- Colônia Johnson
- Café moído na hora
Essa prática, além de divertida, estimula a atenção plena e o diálogo sobre as memórias evocadas.
Quando e com que frequência aplicar o estímulo olfativo?
Não é necessário usar todos os dias. O ideal é introduzir os aromas de forma natural e respeitosa, integrando-os a momentos tranquilos e afetivos, como:
- Horário do café ou chá
- Durante uma conversa com a família
- Antes de dormir, em rituais de relaxamento
- Em datas comemorativas (usar o cheiro típico de pratos da época)
Frequência ideal: 2 a 3 vezes por semana, com variação de estímulos, para não gerar saturação olfativa.
Cuidados ao usar técnicas com aromas
Embora o uso de aromas seja, em geral, seguro, alguns cuidados são essenciais:
- Evite fragrâncias sintéticas muito fortes ou artificiais
- Nunca aplique diretamente na pele sem diluição
- Observe sinais de enjoo, dor de cabeça ou irritação
- Em idosos com doenças respiratórias, consulte um médico antes
- Use sempre com consentimento e conforto do idoso
O foco não deve ser a intensidade do cheiro, mas sim a qualidade da experiência emocional que ele proporciona.
Como registrar as lembranças evocadas?
Cada vez que um aroma despertar uma memória importante, registre! Isso pode ser feito de forma simples, com:
- Anotações em um caderno da memória
- Gravação de áudio ou vídeo com o idoso contando
- Criação de um mural de lembranças com fotos e palavras associadas aos cheiros
- Montagem de um álbum sensorial (com imagens + sachês ou potinhos com aromas)
Esses registros podem ser compartilhados com a família e servem como material terapêutico e emocional, reforçando a identidade e o valor do idoso.
Considerações finais: mais do que lembranças, conexões
Trabalhar o resgate de memórias afetivas por meio dos aromas é muito mais do que um exercício cognitivo. É um gesto de carinho, respeito e reconhecimento da história de vida do idoso. É permitir que ele reviva sentimentos bons, compartilhe experiências e fortaleça sua presença no agora.
Às vezes, basta o cheiro de um bolo assando para o tempo voltar. Basta um perfume antigo para abrir portas que pareciam fechadas. E basta estar presente com amor para transformar o simples em algo profundamente humano.

Sou redator especializado em técnicas de memorização, com formação em Publicidade. Meu foco é criar conteúdos que potencializem o aprendizado, ajudando pessoas a desenvolverem habilidades cognitivas e a reterem informações de forma eficiente. Combinando minha expertise em educação com métodos práticos, ofereço soluções personalizadas para otimizar o processo de memorização.